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15 de jul. de 2025
Criadores de IA como Aitana Lopez e Marisa Maiô desafiam a noção de autenticidade. Entenda como essa tendência redefine o valor e o futuro da economia criativa.

João Filipe Carneiro
Em um canto do nosso feed, uma criadora de conteúdo posta um story sem filtros, celebrando suas imperfeições como um selo de autenticidade. No outro, uma modelo de cabelos cor-de-rosa e traços perfeitamente simétricos divulga uma marca de suplementos para seus mais de 330 mil seguidores. Ela é engajada, popular e financeiramente bem-sucedida. A única, e crucial, diferença? Ela não existe. Seu nome é Aitana Lopez, e cada aspecto de sua "vida" é meticulosamente desenhado por algoritmos em uma agência de publicidade em Barcelona.
Aitana não está sozinha neste novo e estranho território. No Brasil, a apresentadora virtual Marisa Maiô, com seus roteiros afiados e sátiras inteligentes, tornou-se o rosto de uma grande campanha para a OLX, uma escolha deliberada da marca para se associar à inovação e à vanguarda do comportamento digital. Diferente do ideal estético de Aitana, o valor de Marisa reside em seu carisma algorítmico, uma criação do talentoso Raony Phillips que prova que a inteligência artificial pode gerar não apenas beleza, mas também humor e personalidade.
Esses dois exemplos nos jogam no coração de um dos maiores paradoxos da nossa era digital: em um mercado que clama por "autenticidade" como sua moeda mais valiosa, como podem criações inteiramente sintéticas gerar conexões tão reais e, mais importante, contratos tão lucrativos? O surgimento desses avatares não é apenas uma curiosidade tecnológica; é um sintoma de uma profunda reconfiguração no que entendemos por valor, influência e conexão. Estamos testemunhando não a morte da autenticidade, mas a sua complexa e desconcertante evolução, um fenômeno que todo criador, agência e marca precisa decifrar para sobreviver e prosperar no futuro que já começou.
Para entender o apelo de uma persona sintética, precisamos primeiro ser honestos sobre a natureza da autenticidade na economia criativa atual. A verdade é que, muito antes de Aitana Lopez postar sua primeira foto, a "autenticidade" já havia se tornado uma performance meticulosamente curada. O influenciador humano, pressionado por algoritmos e expectativas do público, transformou sua vida em um produto. O café da manhã casual é um flat lay pensado, as férias relaxantes são um cronograma de produção de conteúdo e o desabafo "vulnerável" é, não raro, um movimento estratégico para gerar engajamento.
Essa performance constante cobra um preço altíssimo: o burnout. A necessidade de estar sempre online, de alimentar a insaciável demanda por conteúdo novo, de gerenciar comunidades e, ao mesmo tempo, de manter uma imagem de sucesso e felicidade impecáveis, criou uma geração de criadores exaustos. Eles são diretores de criação, roteiristas, editores, atores e gerentes de comunidade de um espetáculo que nunca termina: o espetáculo de suas próprias vidas. Essa pressão não é apenas criativa, mas também moral. Um deslize, um comentário mal interpretado ou uma crise pessoal podem colocar em risco contratos e reputações construídas ao longo de anos.
Nesse cenário de pressão insustentável, a proposta de um criador de IA começa a fazer um sentido quase perverso. Para uma marca ou agência, um avatar digital não tem vida pessoal, não se envolve em polêmicas, não se cansa e não desvia da mensagem aprovada. Ele oferece um grau de controle e previsibilidade que é o antídoto direto para o caos e a imprevisibilidade inerentes à condição humana. Portanto, a ascensão dos influenciadores de IA não é uma invasão alienígena, mas uma resposta a uma crise que já estava instalada. Eles não inventaram a performance da autenticidade; apenas a aperfeiçoaram, removendo a variável mais complicada da equação: o próprio ser humano.
A Vantagem Estratégica: Do Risco Humano ao Ativo Digital
Se a performance da autenticidade humana é um campo minado de riscos e burnout, o influenciador sintético emerge como uma solução de negócio calculada. A atração que marcas e agências sentem por essas personas digitais vai muito além da novidade tecnológica; ela se ancora em uma vantagem estratégica fundamental: a transformação da influência de um serviço alugado para um ativo controlado.
A agência espanhola The Clueless, por exemplo, criou Aitana Lopez explicitamente em busca de mais controle sobre as campanhas publicitárias. Um ativo digital como Aitana oferece uma previsibilidade que um ser humano jamais poderia garantir: sua estética é ideal e constante, sua agenda é infinitamente flexível e, crucialmente, sua imagem está blindada contra escândalos pessoais. Para um diretor de marketing, isso significa mitigar riscos e garantir que o investimento em uma campanha não será destruído por uma crise de imagem inesperada. A influência deixa de ser uma parceria com uma personalidade imprevisível e se torna a gestão de uma propriedade intelectual (PI) valiosa e própria.
Esse poder não se limita a grandes agências. Pelo contrário, ele democratiza a criação de mídia em um nível inédito. Veja o caso do "Vlog Bíblico". O criador Klelvem Barcelos, sozinho, utiliza ferramentas de IA para produzir conteúdo com estética cinematográfica e consistência impressionante, transformando ideias em ativos de mídia com alcance massivo. Ele não depende de grandes equipes ou orçamentos. A IA se torna sua equipe de produção, e o resultado é uma propriedade intelectual 100% sua. A nova moeda da economia criativa, portanto, não é mais apenas a "autenticidade" de um indivíduo, mas a força e a consistência de uma PI bem construída, seja ela um avatar ou uma série de vídeos. O valor se desloca da pessoa para o personagem, do carisma pessoal para o roteiro e a direção.
A IA como Pincel, Não como Pintor
A narrativa de que a IA substituirá a criatividade humana é simplista e ignora a evidência mais importante: por trás de todo grande avatar, existe um grande criador humano. A tecnologia, por mais avançada que seja, é apenas uma ferramenta — um pincel incrivelmente sofisticado, mas que ainda precisa da visão e da mão de um pintor para criar uma obra de arte.
O sucesso viral de Marisa Maiô, por exemplo, não reside na tecnologia de sua animação, mas no gênio cômico de seu criador, Raony Phillips. São seus roteiros, sua crítica social afiada e sua compreensão da cultura brasileira que dão vida e relevância à personagem. Sem a curadoria humana, Marisa seria apenas uma boneca digital sem alma. Da mesma forma, o "Vlog Bíblico" de Klelvem Barcelos cativa o público não porque foi feito com IA, mas pela maneira autoral e bem-humorada com que ele reimagina passagens bíblicas. A IA é o que permite que ele execute sua visão com uma estética sofisticada sem precisar de um estúdio, mas a visão em si — o conceito, a narrativa, a direção — é inegavelmente humana.
Até mesmo no caso de Aitana Lopez, que parece o mais "corporativo" e fabricado, seu sucesso é um testemunho da habilidade da equipe humana da agência The Clueless. São eles que definem sua personalidade, criam sua narrativa de vida, escolhem suas parcerias e dirigem sua estética. A IA gera a imagem, mas os humanos geram o significado. Isso revela uma verdade poderosa para os profissionais da economia criativa: seu valor não está sendo eliminado, mas sim deslocado. A habilidade mais importante está deixando de ser a performance da autenticidade diante da câmera e se tornando a direção estratégica por trás dela. O futuro não pertence à IA, mas aos curadores, roteiristas, estrategistas e diretores que saberão usá-la para amplificar suas vozes e visões únicas.
De Serviço a Ativo: A Metamorfose do Valor Financeiro
Essa evolução do criador-performer para o criador-diretor provoca uma consequência sísmica no mundo dos negócios: a natureza do valor que eles geram se transforma. No modelo tradicional, um influenciador humano é contratado para prestar um serviço. A marca paga por seu tempo, seu alcance e seu endosso. É uma transação de serviço, efêmera por natureza. Uma vez que o post é publicado, o valor principal daquela transação foi entregue.
No novo paradigma, quando uma agência licencia sua influenciadora de IA ou um criador monetiza sua série de vídeos, a transação é fundamentalmente diferente. Eles não estão apenas vendendo um serviço; estão licenciando ou monetizando um ativo de mídia. Essa propriedade intelectual tem um valor contínuo e escalável. Ela pode ser licenciada para múltiplos parceiros, pode ser desdobrada em diferentes formatos e, idealmente, se valoriza à medida que sua notoriedade cresce. Uma agência que cria um avatar de sucesso não é mais uma mera prestadora de serviços de marketing, mas a gestora de um portfólio de talentos digitais, similar a um estúdio de animação que detém os direitos sobre seus personagens.
Essa mudança de "serviço" para "ativo" deveria revolucionar a forma como o mercado financeiro enxerga esses negócios. Uma empresa que possui ativos de mídia valiosos e com fluxos de receita previsíveis é, em tese, uma aposta de investimento muito mais sólida e escalável do que um negócio baseado unicamente na prestação de serviços individuais. O problema é que a percepção do sistema financeiro tradicional não acompanhou essa evolução. Ele ainda enxerga um contrato de publicidade com um avatar como um simples serviço, ignorando o valor do ativo por trás dele e impondo as mesmas travas de sempre. É aqui que a inovação criativa colide com a inércia financeira.
O Elo Perdido: Financiando a Velocidade das Ideias
Chegamos, então, ao gargalo que define a fronteira atual da economia criativa. De um lado, temos criadores e agências inovando na velocidade da luz, construindo propriedades intelectuais complexas e gerando novas formas de valor que antes pertenciam à ficção científica. Do outro, um sistema financeiro que opera com a mentalidade do século passado: ciclos de pagamento de 60 ou 90 dias, análises de crédito burocráticas que não compreendem a natureza de um ativo digital e uma aversão ao risco que paralisa o crescimento. Esse descompasso cria um vácuo de liquidez que sufoca a inovação no berço. O capital, que deveria ser o combustível, torna-se o freio.
É para destruir esse paradoxo que a DUX existe. Nós não somos apenas uma fintech; somos o sistema operacional financeiro construído para a economia criativa. Nossa missão é sincronizar a velocidade do capital com a velocidade das ideias. Quando um criador fecha um contrato para sua persona de IA, nossa plataforma não vê apenas um serviço a ser pago no futuro. Vemos o que realmente é: um recebível lastreado em um valioso ativo de mídia.
Usando tecnologia proprietária de IA, analisamos esse valor em minutos e transformamos o contrato em capital na conta do criador em até 24 horas. Isso não é apenas sobre receber o dinheiro mais rápido. É sobre ter o poder de execução. É sobre dar a um criador ou a uma agência a liberdade para investir na próxima grande ideia, contratar o talento certo ou escalar uma operação no momento em que a oportunidade surge.
Em um mundo onde a sua criatividade se move cada vez mais rápido, esperar por um sistema financeiro lento não é uma opção. É hora de ter um parceiro que opera na sua velocidade.
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